Na próxima sessão do short/age, na sexta, 29 de novembro, às 21h30, no CCCV – P1, trazemos três curtas-metragens que mergulham na riqueza das tradições, na intimidade familiar e na luta pela independência emocional, com estilos que passam pelo documental à animação e à ficção.

“Amentar as Almas”, de Nuno Vieira, é um documentário que resgata uma tradição quase esquecida do interior de Portugal, que antecede a Páscoa. Nuno traz o seu olhar sobre um ritual ancestral que conecta gerações, num convite à memória coletiva.

Segue-se “Comezainas”, de Mafalda Salgueiro, uma obra que mistura documentário e animação para homenagear a cozinha como espaço de afeto e transmissão de conhecimento. Inspirada nas mãos e gestos da mãe, Mafalda leva-nos a uma viagem pelos sabores e histórias da gastronomia alentejana, transformando o quotidiano em algo extraordinário.

Encerramos com “The Wake Up Chirp”, de Kaan Orgunmat, um drama de ficção que explora a relação entre um rapaz de 10 anos e o seu avô autoritário. Através de uma descoberta inesperada, o rapaz encontra força na comunicação com grilos, numa metáfora poderosa sobre autonomia e libertação.

Uma noite de cinema imperdível, que celebra as ligações humanas e a riqueza das nossas histórias, para assistir na presença, e com conversa, dos realizadores portugueses.

O DIA 29 DE NOVEMBRO: RESUMO

Começamos a noite na companhia de Nuno Vieira. O realizador, que tantas vezes assistiu às sessões do short/age na plateia, teve finalmente oportunidade de se apresentar do outro lado graças ao seu primeiro filme “Amentar as Almas”, onde documenta uma tradição religiosa que acontece um pouco por todo o país. Em Silgueiros, a tradição estava adormecida há 20 anos, mas em 2022, enquanto o realizador trabalhava no seu quarto, ouviu cânticos da rua. Era o início de um ritual que se estenderia por várias semanas. Foi assim que nasceu o filme. Como explicou: “De uma vontade de documentar; sem saber bem o que queria ou o que poderia vir a resultar dali, filmei o máximo que consegui. Fiquei com várias horas de registo dos vários dias”. O que resultou é uma curta que nos aproxima da tradição e nos envolve dos detalhes que a compõem. Uma primeira obra promissora.

Seguiu-se a animação “Comezainas” de Mafalda Salgueiro. Como a própria explicou, é uma homenagem à sua mãe que tem na cozinha a sua principal forma de expressão. Cada refeição é um lugar de memórias e momentos especiais, ainda que tantas vezes nos pareçam mundanos. Animar um filme é sempre um desafio, e para Mafalda não foi diferente. O que aparenta ser um registo imediatista tornado desenho, é na verdade uma elaborada reconstrução de diálogos cosidos e repetidos, entregues a uma equipa de oito animadores que durante dois anos e meio ilustraram cada frame até que se formou este filme, em jeito de memória-mor de mais uma receita de “só” mais um dia. Um filme que nos cativa pela sua dissimulada simplicidade.

A noite terminou com o “The Wake Up Chirp”, de Kaan Orgunmat.