Produção short/age. © Todos os direitos reservados.

O Amolador

um argumento de
João Canelo
ilustrado por
Sara Boiça

Sem dinheiro e à procura de trabalho, um amolador ajuda relutantemente uma família de fantasmas.

1. EXT. MONTANHAS. AMANHECER
Inverno. Os montes do norte mergulhados em nevoeiro.
As árvores carregadas de neve, imóveis. Entre os ramos, o fumo das lareiras.
A melodia da flauta de pã corta o silêncio.

 

2. EXT. ESTRADA. MANHÃ
Numa estrada velha, TAVARES (50), amolador, pedala na sua bicicleta. O casaco pesado e a boina tentam protegê-lo do frio da madrugada.
Mas a respiração espessa e os lábios descolorados, a procurar calor, contam outra história.
Tavares leva a flauta aos lábios e toca-a mais uma vez.
No horizonte, uma pequena aldeia ainda desperta.

 

3. EXT. RUA PRINCIPAL. MANHÃ
Tavares pára a sua bicicleta velha e prepara as ferramentas. As limas, tesouras, martelos.
A flauta faz-se novamente ouvir enquanto os ALDEÕES saem das suas casas. Os HOMENS e MULHERES trazem consigo panelas, chapéus, facas.
Uma fila forma-se até à bicicleta de Tavares.
Na sua bicicleta, Tavares dá aos pedais e, a cada movimento, a roda de esmeril começa a rodar.
Tavares aproxima uma faca e as faíscas voam. A faca desliza pela pedra, da ponta até ao cabo, sempre em movimento.
Os pés continuam a pedalar e o som da correia acompanha a pedra que gira.
As mãos de Tavares ficam mais sujas enquanto trabalha a faca.

 

4. EXT. RUA PRINCIPAL. DIA
Tavares limpa o suor da testa. O frio dissipou-se e ficou o calor do trabalho.
Nas suas mãos, mais de uma dúzia de tostões. Esfrega as moedas e coloca-as na sua mala de ferramentas, insatisfeito.

 

5. EXT. JUNTO À TASCA. DIA
Tavares empurra a bicicleta enquanto toca a flauta.
Na entrada da tasca, HOMENS falam entre si. Acenam para Tavares, que retribui o gesto.
O olhar de Tavares cai sobre uma motorizada encostada à parede da tasca.
O DONO da motorizada sai da taberna, mãos nos bolsos, e assobia para Tavares.

 

DONO
É hoje que leva a motorizada?

 

TAVARES
Se ma der, levo-a já.

 

DONO
Olhe que é uma boa máquina.

 

Tavares analisa a motorizada novamente e depois olha para a sua bicicleta: o quadro cheio de remendos e amolgado, os pneus baixos e o selim transformado numa esponja suja.

 

DONO
A ferrugem é por causa da neve.
Com uma limpeza, parece nova.

 

TAVARES
Quem não parece?

 

6. EXT. ALDEIA. PRAÇA. DIA
O som da flauta de pã antecede a chegada de Tavares, que continua a empurrar a sua bicicleta à procura de trabalho.
Mas a melodia do amolador é engolida pelo frenesim de carrinhas de trabalho, agora estacionadas na praça.
Em fila, vários TRABALHADORES estão à espera. Todos homens, magros, cansados, barba por fazer, roupas gastas.
Tavares abranda e observa enquanto dois CAPATAZES saem das carrinhas.
Os Capatazes observam o grupo e apontam para os Trabalhadores que podem avançar.

 

CAPATAZ
Tu, tu e… tu.
O resto pode ir para casa.

 

Os Trabalhadores escolhidos entram nas carrinhas, seguidos pelos Capatazes.
As carrinhas partem. Os restantes Trabalhadores regressam às suas casas, frustrados, e Tavares vê as ESPOSAS e os FILHOS dos homens que ficaram sem trabalho. O som do choro, das discussões no interior das casas pobres, longe dos olhares estranhos.
Tavares guarda a sua flauta, o trabalho está feito. Na saída da praça, Tavares vê uma oficina. No exterior, o MECÂNICO (60) acena e grita.

 

MECÂNICO
Quer que lhe encha os pneus?
Quase que raspam no chão!

 

Mas Tavares acena que não.

 

7. EXT. SAIDA ALDEIA. ESTRADA. DIA
A aldeia está novamente no horizonte, mas agora, Tavares vira-lhe as costas.
Ele tenta pedalar com todas as suas forças, mas as rodas tremem. A bicicleta abana por todas as suas peças, como se estivesse presa por fios.
Quando menos espera, a roda solta-se e Tavares cai no chão.
Atrapalhado, tenta levantar-se, mas a sua raiva é tanta que pontapeia a bicicleta.

 

8. INT. OFICINA. TARDE
De regresso à aldeia, Tavares olha agora para a sua bolsa, ainda com menos moedas, e suspira.
À sua frente, o Mecânico tenta arranjar a roda da bicicleta e procura por peças.
O olhar de Tavares viaja e vê a oficina cheia de bicicletas velhas, motores, pedaços de metal quebrados, serradura e uma panóplia de ferramentas em exposição.
Entre os posters velhos e recortes de jornal, vemos uma fotografia a preto e branco pendurada. É uma família: marido, esposa e dois filhos.

 

MECÂNICO
Mesmo que meta a roda no sítio,
você ainda se mata com os pneus
neste estado.

 

TAVARES
Eles aguentam.

 

MECÂNICO
(ri-se)
Só se for às cavalitas.
Mas tenho ali uns pneus dos
bons, já lhos mostro.

 

TAVARES
Não tenho dinheiro para ver,
quanto mais para comprar.
Tente só meter isso a andar.

 

O Mecânico ri-se enquanto continua o seu trabalho.
Por cima da porta de entrada, Tavares repara num amuleto. Uma proteção para a oficina.

 

TAVARES
(aponta)
É para o mau olhado?

 

MECÂNICO
(força uma peça)
O senhor sabe… melhor que eu…
que é melhor prevenir que remediar.

 

TAVARES
E tem resultado?

 

MECÂNICO
Dizem que resulta para
o que não se vê…

 

O Mecânico torce o rosto com esforço e encaixa o parafuso que faltava.

 

MECÂNICO
Há muita gente a morrer na raia.
Fazem as corridas e ficam-se por
lá por causa dos carabineiros.

 

Agora experimenta a roda e esta está novamente presa.

 

MECÂNICO
(aponta para o amuleto)
Há sempre histórias que vêm da raia, sabe?
Uma pessoa não quer ter medo, mas tem.
Este mundo não esquece nada.

 

E agora, o Mecânico benze-se, mais sério.

 

MECÂNICO
Primeiro foi a febre, agora são
as corridas. Há muito mal por aí.
E as histórias… nem quero pensar.

 

Com um movimento forte do Mecânico, a roda da bicicleta gira sem problemas. Está finalmente presa.

 

MECÂNICO
Os que ficam cá é que sabem.
As choradeiras à noite, as viúvas
aos gritos, os lenços pretos que
andam de casa para o cemitério.

 

A bicicleta é colocada no chão e Tavares experimenta a resistência da roda.

 

MECÂNICO
Mais vale ser-se mecânico e amolador.
Passa-se fome, mas vive-se.

 

O Mecânico limpa as mãos.

 

MECÂNICO
Você aqui fazia bom dinheiro.
Não há dinheiro para comer, mas
há sempre uns tostões para o
menino Jesus.

 

TAVARES
Deixei-me disso.

 

MECÂNICO
Já não acredita?

 

TAVARES
Acredito. Por isso é
que me deixei disso.

 

O amuleto baloiça com o vento.

 

9. EXT. CRUZAMENTO. TARDE
Tavares passa lentamente na sua bicicleta quando vê: Ao longe, uma IDOSA, vestida de luto, faz-lhe sinal.
Tavares abranda e acena.

 

TAVARES
Boa tarde, vizinha.

 

A Idosa não responde.

 

TAVARES
Precisa de ajuda?

 

IDOSA
Tenho garfos para limar.
Pouca coisa.

 

TAVARES
Mostre lá que eu trato
disso antes que anoiteça.

 

A Idosa agradece e segue lentamente pelo caminho de terra que vai dar a uma casa por caiar, cheia de vegetação à volta, pouco cuidada.

 

10. EXT. CASA DA IDOSA. ENTRADA. TARDE
Tavares está a preparar a bicicleta e as suas ferramentas enquanto espera pela Idosa.
A porta da casa está semi-aberta e o interior é escuro. Não há uma única fonte de luz.
A Idosa surge da escuridão com um pano nas mãos, embrulhado em volta de algo.

 

TAVARES
Deixe lá ver isso.

 

Mas a Idosa mantém o embrulho nas suas mãos.

 

IDOSA
Preciso que ajude uma
família de amigos.

 

Tavares estranha e endireita-se, como se temesse as próximas palavras da senhora.

 

TAVARES
É para amolar alguma coisa?

 

A Idosa acena que não e Tavares muda de expressão.

 

IDOSA
Faleceram faz agora dois anos.
Dizem que foi a febre que os
apanhou. Os Paiva, eram tão
bonzinhos. Gente honesta.

 

A Idosa fica em silêncio, a olhar para Tavares fixamente, e depois continua.

 

IDOSA
Os pequenos vinham aqui muito.
A mãe mandava-os nos recados e lá
vinham eles a correrem pela estrada fora.
Não merecem ficar sem um enterro.

 

TAVARES
A junta que trate disso.
Alguém vai lá com pás e
coloca a família em paz.

 

IDOSA
Você sabe o que lhe estou a pedir.

 

TAVARES
Com todo o respeito, já lá vão
os tempos em que fazia esse tipo
de trabalho.

 

Tavares começa a arrumar as suas coisas e a Idosa insiste em dar-lhe novamente o embrulho.

 

IDOSA
Se os ajudar, eu pago-lhe.
30 escudos. Pense bem.

 

Tavares hesita, mas acaba por agarrar no volante da bicicleta e afasta-se.

 

TAVARES
Não posso, minha senhora.
Boa tarde.

 

11. EXT. ESTRADA DOS PAIVA. FINAL DE TARDE
Tavares traz a bicicleta ao seu lado. À sua volta, árvores cobrem o céu ao longo da estrada antiga. O dia está a terminar e a luz natural começa a desaparecer.
Pelos ramos, conseguimos ver casas abandonadas e barracões antigos.
Tavares olha com atenção para as janelas. Uma a uma. Janelas quebradas, algumas já sem vidros ou cortinados, outras cobertas por tábuas de madeira.
Até que a sua atenção recai sobre uma casa. Uma luz ténue, diferente e pouco natural, surge numa das janelas.
Os pingos da chuva começam a cair. Tavares desvia o olhar da janela e repara nas núveus cinzentas que escondem agora o sol.
A luz continua presente na janela, mas Tavares segue em frente.

 

12. INT. TABERNA. NOITE
O som da chuva a bater contra as janelas.
No interior do café, o TABERNEIRO recolhe os copos das mesas.
A porta abre-se. Tavares entra enquanto sacode a água do casaco.
O Taberneiro é surpreendido pela chegada de Tavares. Dirige-se para o balcão.

 

TAVARES
Que temporal. Estava a ver
que me afogava.

 

TABERNEIRO
Ou não chove ou chove
mais que a putaça.

 

Tavares puxa o banco de madeira, já velho, e senta-se ao balcão.

 

TAVARES
Arranje-me um bagacinho
para aquecer.

 

O Taberneiro coloca o copo no balcão e tira uma garrafa sem rótulo da prateleira.
O líquido transparente cai sobre o copo.

 

TABERNEIRO
Veja lá se a bicicleta não
lhe foge com esta água toda.

 

Tavares bebe o copo de uma vez. Assinala para encher outra vez.

 

TAVARES
Não foge. Antes de entrar, disse-lhe:
psst! Não saias daqui.
E ela não sai.

 

TABERNEIRO
Está bem ensinada.

 

O Taberneiro enche novamente o copo e Tavares bebe um pouco do bagaço.

 

TAVARES
Você conhecia os Paiva?
Moravam ali mais para cima,
para a estrada velha.

 

TABERNEIRO
Deus tenha as suas almas
em descanso.

 

Tavares volta a beber e saúda em respeito.

 

TAVARES
Dizem que foi a febre.

 

TABERNEIRO
E foi. Primeiro apanhou
os pequenos e depois os pais.

 

O Taberneiro volta a encher o copo, sem Tavares pedir.

 

TABERNEIRO
Varreu aquela zona toda.
Isto já foi há uns…dez anos.

 

TAVARES
Dez anos? Não foram dois?

 

O Taberneiro estranha a pergunta e a confusão de Tavares.

 

TABERNEIRO
Se calhar até foram mais.
O avô dos miúdos é mecânico
aqui perto. Se quiser, vá lá
perguntar-lhe.

 

A revelação tem impacto em Tavares, que não consegue esconder a surpresa, ao ponto do Taberneiro reparar no seu olhar e fechar logo de seguida a garrafa. O Taberneiro está mais sério e desconfiado.

 

TABERNEIRO
Mas você era amigo dos Paiva?

 

TAVARES
Muito afastado.

 

TABERNEIRO
É a primeira vez que
o vejo por aqui.

 

Antes que Tavares termine o seu terceiro bagaço, o Taberneiro retira-lhe o copo.

 

TABERNEIRO
Eu já ouvi histórias vossas. Afiavam
facas de manhã, benziam à noite. Se
você vem para aqui com bruxedos,
ponha-se na alheta.

 

Tavares olha para a janela: já não chove.

 

TAVARES
Bom, já parou de chover.
Está na minha hora.

 

Tavares deixa as moedas em cima do balcão. Levanta-se.

 

TABERNEIRO
Deixe os Paiva em paz e vá-se embora.
Você não é bem-vindo aqui.

 

O amolador ajeita o casaco e sai.

 

13. EXT. DESCAMPADO. NOITE
A fogueira arde com força e Tavares protege-se do frio enquanto tenta dormir, mas não consegue. O amolador não pára de se mover, desconfortável.
Até que Tavares levanta-se, frustrado, e olha para a fogueira que se move com mais força, ainda que não exista vento.

 

14. EXT. ESTRADA DOS PAIVA. NOITE
A estrada que vai dar a casa dos Paiva está agora mergulhada na escuridão da noite.
Tavares hesita, mas respira fundo quando olha para a casa e repara novamente na luz que ainda emana pela janela.
O amolador retira uma sacola da bicicleta e coloca-a ao ombro. Ele deixa a bicicleta caída à beira da estrada.
Da sacola, ele retira um frasco com sal e murmura uma reza enquanto caminha e atira o sal.

 

15. EXT. TERRENO DA FAMÍLIA PAIVA. NOITE
O sal continua a cair sobre o caminho de terra.
Os passos de Tavares pela terra molhada, os seus sussurros e agora o som de uma porta a bater ao longe. Um som rítmico que faz Tavares parar.
Os seus olhos tentam esconder o medo, mas Tavares volta a respirar fundo e os passos continuam.
Tavares vê a porta a bater enquanto se aproxima. Depois repara nas janelas partidas e sujas, na tinta enegrecida pelo tempo e no interior escuro. Não há sinais da luz.
Quando Tavares atira o sal na direção da casa, a porta pára de bater. O silêncio voltou.
O amolador aproxima-se da entrada e afasta a porta, que abre calmamente.

 

TAVARES
Se não se importarem…

 

Com cuidado, Tavares entra na casa e marca a entrada com o sal.
A porta fecha-se lentamente.

 

16. INT. CASA DOS PAIVA. NOITE
Na mesa da sala, uma vela é acesa. A cera cai sobre um prato branco e a vela é fixada.
Agora conseguimos ver melhor o interior. A cozinha e a sala estão na mesma divisão. O pó cobre os móveis humildes. Os pertences da família foram levados, as gavetas estão abertas.
Num dos cantos da sala, uma sombra destaca-se. Mais espessa e imóvel.
Tavares arrasta uma das cadeiras e senta-se.

 

TAVARES
Se vos ajudar, eu também
não vou gostar disto.

 

Ele cola uma segunda vela no tampo da mesa, abre a sacola e retira um frasco, ervas frescas e outro prato. Mistura tudo e coloca álcool por cima. Com um fósforo, Tavares acende a mistura.
O fumo espalha-se pela sala como incenso, em direção ao teto, onde vemos mais uma sombra que se expande.
Tavares pega na sua flauta e começa a tocar. Uma melodia mais suave e musical do que o tom que o tem acompanhado.
Os sons de uma família: as vozes dos pais, o ranger das cadeiras, as correrias, risos e a tosse interminável. Os sons misturam-se.
A vela abana, parece que se vai apagar.
Tavares aumenta o volume do cântico.
A vela apaga-se.

 

TAVARES
E assim vamos todos.

 

Tavares está cansado, respira ofegantemente e limpa o suor na testa.
O amolador levanta-se e repara num cavalo de madeira, já antigo, com marcas de utilização. Ele limpa o pó à volta da figura e a cor sobressai. Tavares sorri e coloca o cavalo no bolso do casaco.

 

17. EXT. TERRENO DA FAMÍLIA PAIVA. MANHÃ
A manhã está a nascer e a neblina matinal começa a envolver a casa.
Tavares sai e tenta proteger-se do frio. Ele olha uma última vez para a casa, agora em silêncio e sem a presença da luz, e despede-se com um aceno.

 

18. EXT. CRUZAMENTO. MANHÃ
A bicicleta de Tavares abana com a força da descida que vai dar ao cruzamento. A neblina está ainda mais espessa.
Tavares olha para o local onde encontrou a Idosa e, para sua surpresa, a senhora parece estar à sua espera. Ela acena.
Mas a neblina fica ainda mais forte e cobre a Idosa.
Quando Tavares pára a bicicleta, a Idosa desapareceu com a neblina.
Ele coloca a bicicleta no chão e procura pela senhora.

 

TAVARES
Dona! Ó dona!

 

A neblina recua o suficiente para Tavares ver a casa da Idosa.
A casa está em ruínas, abandonada há vários anos. As janelas caídas, a porta partida e a vegetação em redor das paredes e do teto.
Tavares suspira.

 

TAVARES
30 escudos…

 

Agora perdido e sem saber o que fazer, Tavares recorda-se do cavalo de madeira. Olha para o cavalo e depois para a aldeia ao longe.

 

19. INT. OFICINA. MANHÃ
O amuleto toca com o movimento da porta.

 

MECÂNICO (V.O.)
Só um segundo.

 

Mas quando chega à entrada, o Mecânico apercebe-se de que está sozinho. Ele fica confuso e vê se está alguém na oficina, até que repara no cavalo de madeira em cima da mesa.
Ele reconhece o brinquedo e as lágrimas não demoram a aparecer. Depois a sua atenção recai sobre o papel, que tem escrito: “O MUNDO NÃO ESQUECE NADA”

 

20. EXT. JUNTO À TASCA. MANHÃ
A motorizada está encostada à parede, presa por uma corrente.
A tasca ainda está fechada e não há ninguém no exterior. Apenas Tavares, a sua bicicleta e a motorizada.
Ele olha novamente para a bicicleta, que parece estar ainda mais velha.

 

TAVARES
Um dia.

 

E começa a pedalar na direção da saída, deixando a aldeia para trás.

 

21. EXT. MONTANHAS. MANHÃ
Os montes do norte.
O silêncio é cortado pelo som da flauta de pã.
Na estrada principal, Tavares viaja atrapalhadamente e tenta manter a sua velha bicicleta equilibrada.
No horizonte, uma nova aldeia.

 

FIM

JOÃO CANELO

Formado em argumento na ESTC, é atualmente professor de Game Design, no curso Animação e Videojogos da ETIC, guionista para televisão e cinema, e crítico de videojogos no site Echo Boomer. Ao longo da sua carreira, escreveu séries e longa metragens para produtoras como a Ukbar Filmes, Volf Entertainment e David & Golias; foi consultor em videojogos vencedores nos Prémios PlayStation (como Careto, Laura, The Fishermen); e exerceu o papel de jornalista e gestor de conteúdos na BGamer, Revista Pushstart e Glitch Effect.

CONHECER // ECHO BOOMER – TWITTER