Indo Eu
um argumento de
Francisco Pereira Coutinho
trilha sonora de
Gustavo Dinis
ilustrado por
Susa Monteiro
Ao oferecer-se para fotografar o casamento do seu melhor amigo, Pedro vê-se envolvido num tumulto de emoções e revelações que tanto ele como os noivos e padrinhos pretendiam manter secretas.
Escutar com headphones
1. INT. ESCRITÓRIO – NOITE
Música clássica e um copo de uísque. Com gelo.
Sobre a secretária há uma mão hesitante, uma folha de papel de carta, e uma caneta cuja tinta permanente é de cor esverdeada.
O autor é um rapaz de 26 anos, bem parecido, com feições finas e cores claras. Remata o final da carta assinando: PEDRO.
TITLE CARD: INDO EU
2. EXT. IGREJA DOS TERCEIROS DE SÃO FRANCISCO – DIA
Espreitamos através da ocular de uma câmara: as portas da igreja abrem de par em par e revelam os noivos, AFONSO e HELENA (26), elegantes, jovens, felizes.
CLICK. CLICK. CLICK. O obturador dispara enquanto os CONVIDADOS gritam, assobiam e lançam confetes e flores. Um momento para a eternidade.
Por detrás da câmara está Pedro, com uma segunda câmara a tiracolo. Veste um blazer de linho, com aspecto profissional.
CONVIDADOS
E viva os noivos, la la la la la!
Pedro fotografa toda aquela festa com gosto.
RAFAEL (28) é um Padrinho garboso, dado que também veste fraque e uma gravata amarela tudo menos envergonhada.
RAFAEL
Mostra o cachucho!
E Pedro tira uma fotografia dos dois pombinhos a exibirem as suas alianças. Verifica se ficou bem.
PEDRO
Está óptima!
Afonso aproxima-se. Tem uma beleza inglesa, de revista.
Coloca a mão no ombro do Pedro.
AFONSO
Obrigado, Pedro.
Pedro sorri. Helena sorri-lhe de volta – um sorriso amigável e capaz de mover montanhas.
3. INT. CARRO DO PEDRO – DIA
Pedro entra no carro e fecha a porta. Respira fundo. Não está fácil.
No lugar do passageiro está uma mala cheia de câmaras e objectivas, onde ele guarda a que tem ao pescoço. Além disso, meia saída para fora, está também a CARTA da noite anterior.
Alguém abre a porta do pendura.
RAQUEL
Pedro, tens boleia?
RAQUEL (26) é a Madrinha, magra, com óculos de massa espessos, e um nariz de pessoa irritante.
Sem que ele tenha tempo de responder, Raquel repara no material fotográfico, fecha a porta, e senta-se no banco de trás.
RAQUEL (CONT’D)
Ai obrigada Pedro, não me estava
nada a apetecer ir com o Rafael.
PEDRO
Na boa. Tens aqui o cabo, se
quiseres ligar o telefone.
RAQUEL
Não, deixa.
Assim que saem do estacionamento da igreja, Raquel abre a janela e descalça-se, como se estivesse em casa.
RAQUEL (CONT’D)
Foste muito porreiro com a
história das fotografias.
PEDRO
Oh, o que seria.
RAQUEL
Não, a sério. A Helena estava
super sensibilizada com o teu gesto.
É a tua profissão, não é…
PEDRO
Opá sim, mas somos amigos há anos.
Desde sempre, basicamente.
RAQUEL
Pois eu sei.
O Afonso andou contigo
na escola, não foi?
PEDRO
Sim. As nossas mães são
tipo melhores amigas.
RAQUEL
Ah então a tua Mãe está cá?
PEDRO
Nem me digas nada.
Passa-se um período longo em que ninguém fala.
Desconfortável, Pedro espreita pelo retrovisor e verifica que Raquel está esparramada ao longo dos três lugares.
RAQUEL
Ugh, estou ansiosa que isto acabe.
E mais outro silêncio.
VRUUUUUM. Raquel espreita pela janela e vê um carro a passar na bisga.
RAQUEL (CONT’D)
Era bem feita que fosse flashado.
Pedro não comenta, mas fica pensativo. Até que:
PEDRO
Eia, merda. Raquel vamos ter de
voltar para trás. Esqueci-me de uma
coisa na igreja.
Raquel faz uma cara de desilusão, mas que rapidamente se converte em alívio. Mais uns minutinhos de descanso.
4. EXT. IGREJA DOS TERCEIROS DE SÃO FRANCISCO – DIA
Pedro sai do carro em passo apressado, rumo à igreja. Raquel fica deitada no banco de trás.
PEDRO
Volto já.
5. INT. IGREJA DOS TERCEIROS DE SÃO FRANCISCO – DIA
Pedro entra na igreja, faz uma pseudo-benção e caminha determinado em direcção ao altar.
De repente detém-se. Congela. Lembrou-se de alguma coisa.
Volta aos seus sentidos e corre a buscar o flash que ficou esquecido atrás do altar, e volta em direcção ao carro.
6. EXT. IGREJA DOS TERCEIROS DE SÃO FRANCISCO – CONTÍNUO
Pedro sai apressado com o flash na mão – mas é demasiado tarde.
Raquel está fora do carro, descalça, completamente escandalizada. Na sua mão: A CARTA.
PEDRO
Dá cá isso.
Raquel olha-o como se não o reconhecesse.
PEDRO (CONT’D)
Dá cá.
E arranca-lhe a carta da mão. Guarda no bolso do blazer, junto ao coração.
PEDRO (CONT’D)
Bora. Temos de ir.
Raquel está de tal forma escandalizada que nem consegue falar.
7. EXT. LOCAL DO COPO-DE-ÁGUA – DIA
O copo-de-água é num relvado longo e bem cuidado, com uma vista deslumbrante para a Serra do Caramulo. Deve haver cerca de uma centena de convidados, todos vestidos a rigor.
Há um batalhão de empregados fardados a circular flutes de champanhe e cervejas, e um músico piroso que toca covers em saxofone.
Raquel chega primeiro, em passo rápido, e Pedro segue-a um pouco atrás.
Rafael repara neles e vem ao seu encontro.
Vendo-o aproximar-se, Pedro aproveita para acelerar o passo e juntar-se à Raquel.
PEDRO
(entre dentes)
Raquel, o que é que vais fazer?
RAQUEL
Pá não sei.
Não faço a mínima ideia.
Mas Rafael entretanto chega, já de cerveja na mão.
RAFAEL
Então onde é que andavam?
PEDRO
Desculpa, tivemos de voltar atrás.
Deixei o flash na igreja.
RAFAEL
A mãe da Helena já está toda
impaciente pa tirar as fotografias
da praxe.
PEDRO
Eu sei, desculpa. Vou já já.
RAQUEL
Err, eu vou só à casa de banho,
venho já. Onde é que é?
Rafael aponta com a garrafa de cerveja.
RAFAEL
Despacha-te!
Raquel afasta-se, e Pedro e Rafael dirigem-se para um caminho de pedras cercado de árvores altas.
RAFAEL (CONT’D)
Epá eu sei que ficaste lixado de
não seres convidado pa padrinho–
PEDRO
Opá achas…
RAFAEL
Mas olha, ofereceres-te para
fotografar foi fixe. O Afonso
curtiu.
E dando numa de herói, Rafael agarra nos ombros de Pedro e anuncia para a MULTIDÃO que já se aglomerava à espera das fotografias:
RAFAEL (CONT’D)
Já aqui está!
Bora, uma com os pais!
E começa a mobilizar as tropas, como se fosse um polícia de trânsito e alguém lhe tivesse sequer pedido que o fizesse.
Pedro fotografa os noivos com os quatro progenitores, todos com sorrisos sexagenários e bastante amarelos: LÍDIA e
CARLOS, pais do Afonso; CECÍLIA e LUÍS, pais da Helena (60s).
RAFAEL (CONT’D)
Isto só no cinema! Bora, agora só
as comadres!
Carlos e Luís abandonam a pose de bom grado, ajeitando os seus bigodes.
CARLOS
Olha já estou ali a ver uns
camarões panados.
Enquanto Pedro fotografa as duas matriarcas, Raquel regressa, retocada, e com renovada determinação.
RAQUEL
Já aqui estou, já aqui estou!
RAFAEL
Então vá, agora padrinhos!
CLICK. Raquel deve ser actriz de Hollywood, pois agora parece mais feliz do que nunca. Ao sair da pose, vem em direcção ao Pedro e retira-lhe a câmara das mãos, sem pedir autorização.
RAQUEL
Vá, agora uma com o fotógrafo,
também tem direito.
PEDRO
Oh achas que sim, há tanta gente,
não é preci–
AFONSO
Bora! Também queremos uma contigo!
HELENA
Pedro, tens de vir.
Pedro lá aceita o desafio, entre algumas palmas e apupos. Raquel não tem muito talento, nota-se pela forma como segura na câmara.
Pedro volta apressado para retomar a sua função, e Raquel passa-lhe a câmara com cara dura.
RAQUEL
Precisamos de falar.
8. INT. QUARTO DE VESTIR – DIA
Num dos quartos dentro da casa principal, Pedro fecha a porta atrás de si, Raquel já lá está dentro.
RAQUEL
Pedro, como é que tu foste capaz?
PEDRO
Raquel, ouve, tem calma.
Tu não percebes.
RAQUEL
Ouve, tu tens de lhe contar.
PEDRO
Pá eu sei, achas que eu não sei.
Mas tem de ser na altura certa, não
pode ser assim do nada, não é…
RAQUEL
Pá tens de contar hoje.
PEDRO
Hoje? Oh Raquel, tens noção do que
estás a dizer? Hoje é o dia do
casamento.
RAQUEL
Epá, azar. Quanto mais tempo
passar, pior vai ser.
Tem de ser hoje.
PEDRO
Desculpa lá, mas quem é que tu te
julgas para me dares ordens? Para
já, não tinhas nada que ler a
carta, era uma coisa privada e
não tinhas nada qu–
RAQUEL
Ou contas tu, ou conto eu.
Agora faz como entenderes.
Raquel sai sem dar hipótese de resposta.
9. INT/EXT. ZONA DO BANQUETE – DIA
Os convidados estão agora todos distribuídos pelas várias mesas, debaixo de uma tenda circense montada sobre o relvado.
Faz calor, e algumas senhoras abanam os leques.
Pedro aproveita a ocasião para captar fotografias dos vários convidados à distância. Percorre as mesas fotografando cada pessoa, e ouvindo conversas distintas.
Ao sentir-se fotografada, Raquel desvia a cara. Pedro desiste e segue para o convidado seguinte.
Ao dar a volta à mesa, Pedro posiciona-se de forma a estar por detrás de Afonso, e aproveita a ausência de Helena para lhe sussurrar:
PEDRO
Precisava de falar contigo.
AFONSO
Está tudo bem?
PEDRO
Sim. Mais ou menos.
Afonso consulta o relógio.
AFONSO
Não tarda vão ser os discursos.
Eu a seguir já vou ter contigo.
RAFAEL
Pstt, Pedro!
Rafael faz um gesto para que Pedro se aproxime.
RAFAEL (CONT’D)
(jocoso)
O que é que andavas a fazer enfiado
no quarto com a Raquel…?
PEDRO
Vá Rafael, menos… Ainda tenho
de fotografar duas mesas.
Entretanto chega a Helena, poderá ter estado a chorar.
Disfarça com um sorriso e retoma o seu lugar ao lado de Afonso.
Rafael repara.
RAFAEL
Tás bem?
Helena disfarça habilmente.
HELENA
Sim.
RAFAEL
Tá na hora do discurso…
HELENA
Vai, força. Boa sorte.
Rafael retira um papel de dentro do bolso e dá-lhe uma última vista de olhos. Depois levanta-se, ajeitando o casaco e a gravata. Agarra um microfone escondido na parte de fora da tenda, e coloca-se NO CENTRO DA TENDA
RAFAEL
Ora muito boa tarde a todos! Acho
que todos podemos concordar que
este dia está a ser fantástico,
portanto esperem até ouvir este
discurso.
Os convidados riem-se, porque é suposto.
RAFAEL (CONT’D)
Gostava de vos agradecer a todos
a vossa presença, e em especial
aos pais dos noivos por nos
proporcionarem esta
cerimónia especial!
Afinal de contas, hoje celebramos
a segunda melhor escolha da vida
do Afonso, a Helena.
Mais gargalhadas desconfortáveis.
RAFAEL (CONT’D)
Fora de brincadeiras, como sabem,
a Helena é uma mulher espectacular.
Onde quer que ela entre, toda a
gente repara. É boa amiga,
inteligente, e sempre capaz de
ouvir os nossos problemas.
Ainda estou para saber o
que ela vê no Afonso!
LÍDIA
(sussurrando para Carlos)
Não percebo se ele é Padrinho
ou se é Madrinho…
RAFAEL
Enfim, não me quero alongar. Queria
só propôr um brinde aos noivos, que
tenham muitos filhos, e que sejam
muito felizes, juntos e para
sempre! E já agora um brinde
também a nós! Viva os noivos!
CONVIDADOS
Viva os noivos!
Todos brindam e começa um tumulto de vozes e movimento.
Muitos aproveitam para se levantar das mesas, e Luís dá um aperto de mão ao Rafael pelos elogios à filha.
Pedro tenta procurar Afonso no meio do mar de gente, mas não há nem sinal dele. Encontra Carlos.
PEDRO
Desculpe, por acaso viu o Afonso?
CARLOS
Não vi, não senhor. Queria era ver
se arranjava mais uma tacinha de
creme brulê.
Pedro avança pelas mesas sem oferecer resposta.
Mais à frente encontra Lídia muito animada com a sua amiga ISABEL (60), Mãe do Pedro.
ISABEL
Olá filho…
PEDRO
Olá Mãe… Alguém viu o Afonso?
LÍDIA
Não sei filho, ele desapareceu
logo a seguir ao discurso.
Pedro acena com a cabeça e continua pelo meio dos convidados, até se cruzar com Raquel.
RAQUEL
Então?
PEDRO
Estou à procura do Afonso.
Viste-o?
RAQUEL
Não. Também estava à
procura da Helena.
PEDRO
Raquel, isto é um disparate, não
estás a pensar como deve–
RAQUEL
Procura melhor.
Em algum sítio hão de estar.
Pedro bufa e sai em passo rápido, prescrutando os convidados à medida que avança determinado pelo relvado, galgando toda a sua extensão em passo rápido, rumo ao
10. INT. QUARTO DE 10 VESTIR – CONTÍNUO
Pedro entra sem bater à porta, e encontra a Helena AOS BEIJOS COM O RAFAEL.
Instala-se um silêncio fúnebre.
HELENA
Pedro–
RAFAEL
Ouve, isto não é…
A Helena estava só a
agradecer-me pelo discurso e…
PEDRO
Sim, err… Sim, tudo bem.
Não viram o Afonso?
E sai.
11. EXT. RELVADO – DIA
Pedro sai apressado e avista Afonso perto do bar a falar com Luís.
PEDRO
Afonso, tens um minuto.
Precisamos mesmo de falar.
Afonso percebe que não dá para continuar a adiar.
AFONSO
Luís, importa-se?
É só um segundo.
12. EXT. CORREDOR DAS COZINHAS – DIA
Afonso e Pedro reúnem-se num corredor de relvado que liga a zona da festa às cozinhas.
AFONSO
Podes-me explicar o que se passa?
PEDRO
Tem a ver com a Helena.
Apanhei-a com o Rafael.
Afonso olha para o chão, processando.
AFONSO
Mas hoje? Aqui no meio?
PEDRO
Sim… no quarto de vestir.
Afonso desvia o olhar para garantir que não estão a ser espiados.
AFONSO
Não acho normal. Alguém viu?
Pedro diz que não com a cabeça.
PEDRO
Mas há mais. Temos um problema…
Eu tinha-te escrito uma carta…
que te queria dar em privado.
Mas tinha-a no carro, e a Raquel armou-se
em esperta e decidiu lê-la.
AFONSO
O que é que dizia a carta?
Pedro tira-a do bolso e entrega-lha, envergonhado. Afonso lê os primeiros parágrafos, e percebe logo o que vem a seguir.
PEDRO
Desculpa foi uma estupidez.
AFONSO
Mas porque é que não guardaste para
me dar depois?
PEDRO
Não sei… não pensei bem.
Queria-te dar hoje. Achei que
ia ser diferente leres hoje de leres noutro dia.
AFONSO
Bom – mas e agora? E a Raquel?
PEDRO
A Raquel está armada em justiceira
e quer que eu conte tudo à Helena,
senão diz que vai contar ela.
AFONSO
Epá foda-se que nervos de gaja.
Anda.
13. INT. QUARTO DE VESTIR – DIA
Afonso reuniu os cinco “amigos” no quarto de vestir. Raquel está sentada numa cadeira de secretária, mais afastada dos outros.
Afonso, Pedro e Helena estão de pé, num círculo amplo, e Rafael espreita pela janela.
AFONSO
Bem, já todos sabem que precisamos
de falar. Raquel, o Pedro contou-me
que leste a carta.
RAFAEL
Qual carta?
Afonso interrompe-o com um gesto, para pôr ordem.
AFONSO
Não tinhas nada que ler. Era uma
coisa privada. E não que tenhas
alguma coisa a ver com isso, mas a
Helena sabe perfeitamente.
Raquel olha para Helena incrédula.
HELENA
É verdade, Raquel. Eu ia-te contar.
Não queria que as coisas tivessem
acontecido assim, mas aconteceram.
Tu és a minha amiga mais antiga.
Só te peço que respeites a minha
privacidade.
RAQUEL
Privacidade? Helena tu estás a
viver uma vida de fachada…
com um namorado – um marido – que
é paneleiro? Como é que dormes à
noite? Como é que consegues montar
esta merda de festa, esta
fantochada à frente dos
convidados todos?
RAFAEL
Epá ó Raquel, tá calada. Tens
sempre que te meter onde não és
chamada. Não falas assim com a
Helena, percebes? Não admira que
ninguém te pegue.
RAQUEL
Oh meu anormal do caralho, mas
porque é tu estás aqui sequer?
AFONSO
Raquel, por favor. E tu também,
Rafael, só estás a fazer pior. Está
tudo lá fora, não tarda estão à
nossa procura.
HELENA
Raquel, ouve. Eu percebo que tu
estejas confusa, e te sintas
traída. Mas tens de perceber que
nós encontrámos este equilíbrio, e
estamos satisfeitos com ele. Por
favor, a sério, respeita a minha
decisão.
PEDRO
Afonso, mas tu também
sabias deles os dois?
Helena e Rafael trocam olhares.
RAQUEL
Eles os dois?
AFONSO
Opá já chega, a sério, não vale a
pena. Todos aqui sabem o que deviam
saber. E chega. Isto é uma cena
nossa, e que se tem de manter
assim, e pronto. É o melhor
para todos.
HELENA
Amiga desculpa, eu não queria que
isto tivesse acontecido assim.
Raquel está a chorar, mas o que mais sente é raiva.
RAQUEL
Helena tu pa mim não existes. Vão
todos pó caralho, eu vou-me embora
desta merda.
Raquel deixa os quatro para trás, completamente destroçada.
Afonso espera um pouco que ela se afaste.
AFONSO
Porra, e vocês também não podiam
ter aguentado um bocadinho…
Helena desvia o olhar. Por fim, sai atrás da sua Madrinha.
RAFAEL
Helena, espera!
E segue-a também, deixando ficar apenas Afonso e Pedro, também bastante emocionado.
Segue-se um silêncio enquanto a poeira assenta.
PEDRO
Desculpa, Afonso.
Isto foi tudo culpa minha.
Afonso aproxima-se e segura-lhe a cara com as duas mãos. As suas caras aproximam-se, mas nunca chegam a tocar-se.
14. EXT. RELVADO – FIM DO DIA
Ao longe, vemos Afonso e Pedro a sair do interior da casa.
Lídia e Isabel estão sentadas numas cadeiras de jardim, com vários copos vazios numa mesa adjacente.
LÍDIA
Queria tirar uma foto com o meu
filho, mas não há sinais dele.
E bebe um gole valente. Isabel choca o seu copo com o de Lídia, num brinde tosco e não solicitado.
ISABEL
E eu queria tirar uma contigo e não
há sinais do fotógrafo.
Riem.
LÍDIA
Deixa, filha.
Tiramos com o telefone.
E tiram uma selfie, mesmo à medida que o Sol se põe e o casamento prossegue como se nada fosse.
FIM