Dois Tiros no Coração
um argumento de
Tiago R. Santos
trilha sonora de
Luís Antero
ilustrado por
Carolina Celas
Uma argumentista em crise desloca-se a Viseu para dar uma formação, entrando em confronto com uma misteriosa aluna.
Escutar com headphones
1. EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – INT. POLITÉCNICO – MANHÃ
É bem cedo e está um carro estacionado em frente à entrada do Instituto Politécnico de Viseu. É um carro preto já com alguns anos em cima. A janela do lado do condutor está ligeiramente aberta e alguém deixa cair cinza de um cigarro para a rua.
Junto da porta de entrada do Instituto, ao fundo, alguns JOVENS ESTUDANTES com mochilas às costas dirigem-se para a porta, entrando no edifício.
MARIANA (O.S.)
…espera, mas ouve-me… Ouve-me
só por um segundo. Posso falar?
(pausa)
Mas é só uma primeira versão. Eu
sei que ainda precisa de trabalho.
Mas como é que não iria precisar de
trabalho se é uma primeira versão?
E tu sabes que sou melhor a
reescrever, que as minhas primeiras
versões são sempre para descobrir
caminho. Mas tens de reconhecer
que a premissa…
2. INT. CARRO ESTACIONADO – MESMO
MARIANA, 30 e muitos anos, está a fumar sentada no banco do condutor enquanto fala ao telemóvel. O interior do seu carro está tão desarrumado e caótico como a aparência de Mariana – roupa amarrotada, cabelo mal apanhado num rabo de cavalo quase anacrónico.
No topo da janela do condutor, estão várias linhas pretas assimétricas, sinais de queimaduras de cigarros que esbateram, acesos, contra o tecido do interior do carro.
MARIANA
(ao telemóvel)
…ok, já está explorada, já foi
vista, mas não desta maneira…
Porque o que me interessa…
Mariana pára de falar. Dá um bafo no cigarro, que já está a terminar. Apaga-o no cinzeiro do carro, repleto de beatas.
MARIANA (CONT’D)
(ao telemóvel)
Susana, não me venhas com essa
conversa outra vez. Não tenho de
passar o resto da minha vida a
escrever filmes para mulheres só
porque sou uma mulher, porra.
Não tenho paciência para
protagonistas em crises de meia
idade que redescobrem o prazer da
vida porque comem uma carbonara na
Costa Amalfitana. E… Confia em
mim, mas porque é que não confias
em mim? Já te esqueceste do
“Dois Tiros no Coração”?
(pausa)
Eu sei que foi em dois mil
e sete mas…
(pausa)
…ouve, eu preciso disto. Eu…
(pausa)
Foda-se, eu preciso disto.
3. EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – DIA
Mariana fecha a porta do carro com alguma violência. Está com uma mochila às costas. Respira fundo. Olha para a entrada do edifício e vê agora TIAGO, vinte e muitos anos, que está à sua espera, sorridente, acenando-lhe.
Mariana também sorri na direcção dele.
MARIANA
(entre dentes)
Foda-se. Foda-se, caralho
para esta merda.
4. INT. CORREDOR – INSTITUTO POLITÉCNICO – DIA
Tiago e Mariana caminham juntos por um corredor em direcção à sala de aula. À frente deles, os VÁRIOS ALUNOS vão entrando para uma sala de aula.
TIAGO
…obrigado, mais uma vez.
Estamos muito contentes por
ter aceite o nosso convite.
O “Dois Tiros no Coração” é
um dos meus filmes portugueses preferidos.
Que belo argumento.
MARIANA
(sem grande convicção)
Certo. O realizador mudou-me o
final mas… sim. Obrigado.
TIAGO
(meio atrapalhado)
E novos projectos? Para quando?
MARIANA
…várias coisas a arrancar…
Sim, muita coisa e…
Produzimos o quê? Quinze filmes por
ano em Portugal? Metade escritos
pelos próprios realizadores.
Não é fácil, ser argumentista
em Portugal.
Tiago e Mariana chegam à porta que dá para a sala de aulas, a mesma para onde entraram os Alunos.
MARIANA (CONT’D)
…se eu fosse honesta, entrava
naquela sala e dizia-lhes que mais
vale tentarem ser astronautas.
A probabilidade de êxito
é ela por ela.
Tiago fica a olhar para Mariana, que percebeu que falou demais. Ela sorri, um sorriso claramente falso mas suficiente para desarmar o embaraço da situação.
MARIANA (CONT’D)
Estou a brincar.
Tiago também sorri, aliviado.
TIAGO
…falta apenas uma aluna que
enviou mensagem, diz que está
atrasada mas a caminho.
MARIANA
Ok.
TIAGO
Qualquer coisa que precise,
tem o meu número, certo?
Basta ligar.
Vou estar por perto.
Tiago abre a porta a Mariana. Dentro da sala, todos olham na direcção deles – alguns já sentados, outros ainda de pé.
TIAGO (CONT’D)
Boa aula.
Mariana respira fundo.
MARIANA
Certo.
5. INT. SALA DE AULAS – MANHÃ
Mariana está agora em frente a cerca de 10 ALUNOS, rapazes e raparigas das mais variadas idades. A sua mala aberta está em cima da mesa do professor, onde estão também alguns livros e DVDs e um leitor de DVDs. Há um projector em cima de uma mesa ao centro da sala.
Mariana pega num DVD do “Chinatown”.
MARIANA
…para escreverem filmes é
preciso primeiro ver filmes.
(mostra o DVD)
Quem é que já viu o Chinatown?
Sete dos dez alunos colocam o braço do ar.
MARIANA (CONT’D)
(enquanto coloca o DVD no leitor)
…não faz mal, vamos ver outra vez
antes de falarmos da estrutura dos
três actos. Quero que analisem o
filme e assinalem tudo o que vos
parecem relevante para a estrutura
dramática, onde é que acaba o
primeiro acto, onde é que acaba o…
O DVD começa a girar e ouve-se a MÚSICA DE GENÉRICO DE JERRY GOLDSMITH.
6. INT. SALA DE AULAS – MANHÃ – POUCO DEPOIS
Mariana está sentada numa cadeira junto da secretária do professor, virada de costas para os seus alunos. Numa tela, passam as imagens do filme que lhe iluminam o rosto. Os diálogos do filme preenchem a sala.
EVELYN MULWRAY (O.S.)
When was the last time?
JAKE GITTES (O.S.)
Why?
Mariana nem sequer olha para o ecrã. Rosto virado para baixo, expressão pensativa. Que poderia ser facilmente confundida com tédio ou sono.
EVELYN MULWRAY (O.S.)
It’s an innocent question.
JAKE GITTES
In Chinatown.
De repente, nas suas costas, há um clarão de luz. Mariana olha por cima do ombro. É CLARA, 30 anos, que entra com uma mala a tira-colo. Mariana não a consegue ver muito bem.
EVELYN MULWRAY (O.S.)
What were you doing there?
Clara dirige-se para uma cadeira vazia.
MARIANA
…feche a porta.
Clara pára. Há um segundo de hesitação.
JAKE GITTES (O.S.)
Working for the District Attorney.
Clara acaba por se dirigir à porta, que fecha.
EVELYN MULWRAY (O.S.)
Doing what?
Mariana volta a fingir que está a ver o filme.
JAKE GITTES (O.S.)
As little as possible.
Ouve Clara que vai para o seu lugar ouve a cadeira a arrastar-se e ouve Clara a perguntar…
CLARA (O.S.)
…o que é isto?
ALUNO #1 (O.S.)
…Chinatown.
CLARA (O.S.)
Eu sei que é o Chinatown, mas
porque é que o estamos a ver?
ALUNO #1 (O.S.)
…porque para se
escreverem filmes, é preciso
ver filmes primeiro.
EVELYN MULWRAY (O.S.)
The District Attorney gives his men
advice like that?
Mariana olha de novo para cima do ombro. Tenta fixar o olhar em Clara, mas ainda não a consegue ver bem, apenas flashes do seu rosto que vai sendo iluminado pelo Chinatown.
Vê que Clara cruza os braços em cima da mesa, em cima da mala, e repousa a cabeça em cima deles.
JAKE GITTES (O.S.)
They do in Chinatown.
7. INT. SALA DE AULAS – FINAL DA MANHÃ
Clara está a dormir com a cabeça em cima dos braços quando as luzes se acendem. O seu rosto está tapado pelo cabelo negro.
Os seus colegas estão a tentar não se RIR. Sem grande sucesso.
Mariana olha para ela. O ALUNO #1 toca no ombro de Clara, que abre os olhos. Levanta a cabeça. Não está atrapalhada pela situação. Apenas meio confusa. Demora um segundo a perceber onde é que está.
MARIANA
Noite difícil?
Clara fica a olhar para Mariana. Não há qualquer medo ou respeito na sua expressão.
CLARA
…já tinha visto o filme.
MARIANA
…então porque é que não me diz
onde é que acaba o primeiro acto?
CLARA
Quando o Jake descobre que foi
enganado. Quando é confrontado pela
verdadeira Mrs. Mulwray.
Mariana não diz nada. Sabe que ela tem razão.
CLARA (CONT’D)
…queres que te diga onde
é que acaba o segundo?
MARIANA
(pausa)
…ouça, tenha…
CLARA
…tenha o quê?
Mariana e Clara ficam a olhar uma para a outra.
CLARA (CONT’D)
…o quê?
MARIANA
Respeito.
Clara olha para ela. De cima a baixo.
CLARA
(com evidente ironia)
Sim, senhora.
Mariana olha para os restantes alunos, expectantes com a estranha tensão que se criou entre as duas.
MARIANA
E quem é que sabe onde
é que acaba o segundo acto?
Ninguém levanta o braço. Clara sorri. Levanta o braço, em jeito de gozo. Mariana olha para ela, já irritada.
8. INT. REFEITÓRIO – INSTITUTO POLITÉCNICO – MANHÃ
Mariana está a beber café. Vários dos Alunos estão à sua volta. Clara não. Ouvem o que ela diz.
MARIANA
…as pessoas têm a mania que a
vida delas dá um filme. Mas isso
não é verdade.
Clara aparece no refeitório. Está também a beber um café. Mariana ainda não reparou nela.
MARIANA (CONT’D)
Contam-me episódios da vida delas,
alguma coisa que lhes aconteceu, e
acham que é uma grande história.
Mas não é. É apenas num momento
estranho num mau dia. Porque para
ser um filme, é preciso haver
regras, um protagonista com um
objectivo dramático e obstáculos
para que exista um arco, uma
transformação ou redenção…
CLARA
(interrompe)
Qual é o teu objectivo dramático?
Mariana fica a olhar para Clara.
MARIANA
…eu não sou a
personagem de um filme.
CLARA
…mas e se fosses?
MARIANA
…não é disso que estou a…
CLARA
…porque essa conversa é que
torna os filmes todos iguais.
Essa conversinha de que alguém
tem de querer alguma coisa e
lutar para lá chegar para, no final,
essa pessoa ser melhor porque, sei lá,
aprendeu imenso. Mas essa merda é
só teoria, é só paleio, na prática,
na verdade, as pessoas não aprendem
nada, nunca, são sempre iguais e o
cinema devia ser isso também.
MARIANA
Isso o quê?
CLARA
Dias onde não se aprende nada.
Clara sorri, um sorriso de escárnio.
CLARA (CONT’D)
Como este.
A alguma distância, Tiago entra no refeitório. Fica a olhar para o grupo. Parece preocupado mas não se aproxima. Mariana repara nele.
MARIANA
(para os alunos)
…acabou o intervalo.
Os Alunos regressam para a aula, trocando impressões, intrigados pela atitude de Clara – que ainda fica ali, a olhar para Mariana, desafiando-a.
MARIANA (CONT’D)
Se achas que não sei de que
é que estou a falar, o que
é que estás aqui a fazer?
Clara abana a cabeça, vira-lhe as costas e dirige-se à sala.Tiago, vendo uma oportunidade, aproxima-se de Mariana.
MARIANA (CONT’D)
…ouve, isto é impossível.
Não sei como, mas aquela
miúda tem de…
Tiago olha à volta.
TIAGO
…a aluna que chegou atrasada.
A Clara…
MARIANA
…sim, é o que estou a dizer,
é impossível ensinar a quem…
TIAGO
(nervoso)
…a polícia…
Mariana olha para Tiago.
MARIANA
…a polícia?
TIAGO
…está lá fora. Está à procura dela.
Dizem que ela matou o
namorado ontem à noite.
Que lhe deu um tiro.
MARIANA
(pausa)
O quê?
Mariana olha na direcção da sala de aula.
MARIANA (CONT’D)
…merda, tenho o meu
computador lá dentro.
TIAGO
O quê?
Mariana abana a cabeça, nervosa. Toma uma decisão: começa a andar na direcção da porta de saída. Tiago vai atrás dela.
TIAGO (CONT’D)
…não está a perceber, Mariana.
Mariana continua a andar. Tiago acompanha-a, tentando controlar o pânico.
TIAGO (CONT’D)
…eles acham que pode estar
ainda armada. Se entrarem por
aqui dentro, ela pode fazer mal
a alguém… Fazer reféns.
(pausa)
…vai ter de continuar
dar a aula.
Mariana já está mesmo a chegar à porta de saída.
MARIANA
Vou ter de dar a
aula é o caralho.
Tiago agarra no braço de Mariana. Ela dá-lhe um safanão e Tiago larga-a.
TIAGO
A vida dos seus alunos
depende disso.
MARIANA
…eu não sou responsável por…
Quer dizer, eu…
TIAGO
…só tem de fingir que está tudo
normal até parar para almoço.
Eles vão estar lá fora, à espera
dela, quando saírem.
(pausa)
É mais seguro.
MARIANA
(pausa)
…é mais seguro para quem?
TIAGO
Para todos.
MARIANA
Menos para mim.
Tiago não tem resposta. Mariana olha para a porta de saída. De onde está, consegue ver o seu carro no parque de estacionamento.
MARIANA (CONT’D)
Foda-se. Foda-se para isto.
9. INT. SALA DE AULAS – MANHÃ
Mariana está à porta. Todos os Alunos se estão a sentar ou já o fizeram. Clara também. Ela não fala com ninguém, parece estar a pensar em alguma coisa, olhar abstraído de tudo o que a rodeia.
Até que Clara olha para Mariana. Há um segundo de hesitação. Depois Mariana entra e fecha a porta.
10. INT. SALA DE AULAS – POUCO DEPOIS
Mariana de pé, a falar para os alunos sentados, cada um na sua secretária.
MARIANA
…ok, então vamos fazer assim:
peguem nos vossos computadores ou
numa folha de papel e numa caneta e
escrevam a ideia para um filme. Uma
sinopse, uma premissa, seja o que
for. E trabalhamos nisso depois
do almoço.
Os Alunos pegam nos computadores e nos cadernos, que colocam em cima das secretárias. Todos menos Clara, que vai olhando
para os lados.
MARIANA (CONT’D)
…lembrem-se da estrutura
dos três actos…
Mariana olha para Clara.
MARIANA (CONT’D)
Ou não.
CLARA
…não tenho caneta.
Mariana não responde mas vai até à sua mala. Procura uma
caneta – é uma boa caneta – que encontra. Vai dar a Clara.
CLARA (CONT’D)
…também não tenho papel.
O Aluno #1 rasga uma folha de papel, que dá a Clara.
MARIANA
Tem tudo?
CLARA
Tenho, sim senhora.
MARIANA
…escreve o que quiseres,
está bem?
CLARA
E as regras?
MARIANA
Foram feitas para ser quebradas.
Clara sorri.
CLARA
Até fica mal. Uma argumentista
a usar frases feitas.
Mariana ignora a provocação.
MARIANA
Cada um tem a sua voz.
Deixa-me ouvir a tua.
Clara sorri e olha para a folha de papel. Mariana dirige-se para a sua secretária.
CLARA
…que foleiro.
Mariana olha para trás, para Clara.
CLARA (CONT’D)
…quando não se tem jeito para o
diálogo, mais vale ficar calada.
Clara começa a escrever. Mariana senta-se, olha para o relógio, depois para a porta da sala, tenta esconder o nervosismo. Tentando ser discreta, arruma o computador e as suas coisas pessoais na mochila.
11. INT. SALA DE AULAS – TARDE
Mariana olha para o relógio. São 12h53. Olha para os alunos e levanta-se.
MARIANA
…almoçamos?
Os Alunos começam a levantar-se.
ALUNO #1
…podemos deixar as coisas aqui?
Mariana diz que sim com a cabeça. Clara também se levanta, pega na sua mala, que coloca no ombro.
Os Alunos saem, falando entre si. Clara fica ali de pé, a olhar para Mariana, que agora lhe evita o olhar, usando o telemóvel para isso – concentram-se no ecrã, fingindo responder a uma mensagem.
Um último Aluno sai, deixando Clara e Mariana sozinhas.
CLARA
…sabes o que é que me
chateia no Chinatown?
Mariana olha para Clara.
MARIANA
…o quê?
CLARA
…a Evelyn apenas se fode por
causa do Jack Nicholson. Ela já
tinha tudo planeado para fugir e
ia resultar, bastava ela chegar ao
México e toda a vida de merda
ficava para trás, no passado.
Mas não, aquele cabrão tinha de
aparecer no filme para lhe lixar a
vida. Para se armar em campeão,
para confrontar os maus, convencido
que ia salvar a rapariga e ser
feliz com ela para sempre.
(pausa)
Quem é que essas pessoas acham que
são? Esses filhos da puta que acham
que nos podem salvar?
Clara olha para Mariana durante um segundo. Mas a professora não tem resposta. Clara começa a dirigir-se para a porta. Antes de sair, pára e olha para Mariana.
CLARA (CONT’D)
Estou aqui porque gostei do filme
que escreveste, o “Dois Tiros no
Coração”. É por isso que estou
aqui. Aquela merda bateu-me na
altura. Pensei, “caralho, que boa
história.”
Mariana não responde.
CLARA (CONT’D)
…e tu, porque é que estás aqui?
MARIANA
…porque o “Dois Tiros no Coração”
foi a última coisa de
jeito que escrevi.
Clara sorri e sai da sala, deixando Mariana sozinha. Ela senta-se. Respira fundo. Olha à volta. Os papéis e os computadores em cima das mesas. Olha para o lugar de Clara, vê a folha de papel e a sua caneta.
Mariana levanta-se. Vai até ao lugar de Clara. Pega na sua caneta e guarda-a no bolso. Depois olha para a folha – está completamente preenchida pela letra anárquica de Clara.
Mariana começa a ler. Primeiro, de forma casual. Depois, cada vez com mais atenção, como se estivesse a ler algo fundamental e importante. Senta-se no lugar de Clara.
Quando acaba, Mariana encosta-se na cadeira. Olha à volta, para a sala vazia, com a folha de papel na mão.
Há um RUÍDO FORTE. Parece um DISPARO.
12. INT. CORREDOR – INSTITUTO POLITÉCNICO – TARDE
Mariana passa pelos corredores vazios. Não há sinal de ninguém. É um ambiente quase fúnebre. O Aluno #1 aparece em passo apressado, expressão assustada e uma energia nervosa que lhe correr nas veias.
ALUNO #1
…mataram-na. Ela sacou
de uma pistola e…
O Aluno #1 andar em direcção à sala, mãos na cabeça.
ALUNO #1 (CONT’D)
Foda-se, isto é surreal. Que filme.
13. EXT. INSTITUTO POLITÉCNICO – TARDE
Mariana sai pela porta. A primeira coisa que vê, nas escadas, é Clara, corpo deitado de barriga para baixo, cabeça de lado e expressão sem vida. Está uma poça de sangue junto do seu corpo. Um revólver também.
Dois Carros da Polícia estão parados entre as escadas de acesso ao polo universitário e o parque de estacionamento. As luzes giratórias estão ligadas.
Alguns POLÍCIAS estão à volta do corpo. A alguma distância, os Alunos olham chocados para a cena. Consolam-se.
Uns filmam o cenário com telemóveis. Tiago está perto deles. Alguns choram. Mariana desce as escadas, afastando-se mas sempre a olhar para Clara.
14. EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – POLITÉCNICO – MESMO
Mariana está junto do seu carro. Um POLÍCIA #1 cobre o corpo de Clara com um cobertor. Mariana troca um olhar com Tiago. Depois, abre a porta e entra no carro.
15. INT. CARRO ESTACIONADO – MESMO
O interior do carro é iluminado pelas luzes intermitentes das sirenes da polícia. Mariana senta-se no lugar do condutor e fecha a porta, abafando o som exterior.
Mariana acende um cigarro. Respira fundo. Abre um pouco a janela. Leva a mão ao bolso, de onde retira a folha de papel escrita por Clara.
Mariana lê de novo o que Clara escreveu. Coloca a folha em cima do banco do passageiro. Pensa dois segundos.
Mariana pega no telemóvel. Vai procurar a última chamada que fez, para Susana Correia.
Mariana faz a chamada. Susana atende.
MARIANA
(ao telemóvel)
…Susana, ouve-me.
(pausa)
Tive uma ideia do caraças
para um filme.
Mariana agarra na folha de papel.
MARIANA (CONT’D)
…não, acredita no que te digo.
(pausa)
Esta ainda não ouviste.
FIM