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'77
um argumento de
Alexandra Paraíso
ilustrado por
Mariana Rio
Para ser aceite no seu grupo de amigos, a tímida Íris desafia-se a uma tarefa difícil: encontrar maneira de entrar nos bastidores de um concerto esgotado e arranjar passes para todos.
1. INT. COZINHA DA CASA DA ÍRIS – NOITE
Estamos em Julho de 1977. Uma MÃE está sentada numa cozinha colorida a beber um copo de vinho. Atrás dela está uma janela, por cima do lavatório, com vista para o jardim. Nesta janela começa a aparecer um par de pernas. Aparece um segundo par de pernas.
Os pés pousam no parapeito e vemos duas raparigas.
É a ÍRIS e a MIA, duas adolescentes de 17 anos, a tentarem escapulir de casa sorrateiramente. Ambas estão vestidas com vestidos curtos coloridos. Reparam na Mãe de Íris dentro da cozinha completamente alheia ao que se está a passar lá fora.
A Mia ri-se divertida, enquanto a Íris manda-a calar, nervosa.
2. EXT. JARDIM DA CASA DA ÍRIS – NOITE
O pé da Íris finalmente pousa no chão. Ajuda a Mia que está com dificuldades. Mia pousa mal o pé e acaba por cair no chão levando Íris consigo. A Mia ri-se, mas é interrompida por um “Shhhh” da Íris.
Levantam-se e ajustam os seus vestidos curtos. Dão as mãos e correm pelo jardim até ao muro que rodeia a casa. A Íris ajuda a Mia a subir o muro.
3. EXT. RUA ATRÁS DA CASA DA ÍRÍS – NOITE
Estacionado na berma da estrada está um carro azul. Dentro do carro estão sentados 3 rapazes: PEDRO (18 anos), LUCAS (17 anos) e JOÃO (17 anos). Lucas e João vestem camisas coloridas com calças de boca de sino, enquanto Pedro veste um casaco de cabedal e calças de ganga.
O Pedro e o Lucas estão sentados à frente, a curtir o som da música que sai da rádio, enquanto o João, sentado atrás, procura pelo o seu isqueiro nos bolsos das calças.
Finalmente encontra-o. Coloca um cigarro na boca. CLICK. Uma pequena chama ilumina o carro. O Pedro vira-se para trás de imediato.
PEDRO
Estás-te a passar?
O Pedro bate no João que se queixa de dor e tira-lhe o cigarro da boca.
PEDRO
NÃO SE FUMA NO CARRO DO MEU PAI!
Quantas vezes é que eu tenho
que te dizer?
Alguma coisa bate no carro e faz um GRANDE BARULHO. O rapazes saltam assustados.
Mia aparece na janela de repente a fazer uma careta.
O Pedro destranca o carro. Mia e Íris sentam-se no banco de trás. Mia senta-se no lugar meio.
MIA
(a sentar-se)
Olááá rapaziada.
LUCAS
Sejam bem aparecidas.
PEDRO
Finalmente!
O concerto começa às nove,
temos que nos despachar.
O Pedro olha para trás, para Íris.
PEDRO
Íris não trouxeste a cerveja?
Tu disseste que ias trazer
desta vez.
ÍRIS
(atrapalhada)
Esqueci-me… Desculpa.
PEDRO
Sempre a mesma história.
O Pedro vira-se para o volante e bufa. Íris encolhe-se no seu lugar. Pedro olha pelo o retrovisor para Mia.
PEDRO (CONT’D)
Que grande amiga que
nos arranjaste Mia.
MIA
Ei! Devias era estar agradecido
por teres mais uma rapariga
disposta a falar contigo.
O grupo ri-se. Lucas olha para trás, para Íris.
LUCAS
Não te preocupes Íris,
eu trouxe cerveja para todos.
Íris sorri para Lucas agradecida. O Pedro dá à chave e o motor começa a trabalhar. Levanta o pé do travão e coloca-o no acelerador. Arrancam.
4. INT. CARRO DO PEDRO – NOITE
No banco de trás, Mia e João conversam entusiasticamente sobre música. Íris escuta atentamente. João vai bebendo uma cerveja.
JOÃO
Eles vão ser gigantes…
No mês passado o baterista
fez um solo de 26 minutos…
Consegues imaginar… 26 minutos
a tocar sem parar… As mãos dele
estavam a sangrar, mas ele
continuava… Foi brutaaal…
Espero conseguir tocar como
ele um dia.
MIA
Que fixe, eu quero
muito vê-los ao vivo.
No banco da frente, Lucas bebe uma cerveja e abana a cabeça ao ritmo da música que sai da rádio. Mia inclina-se entre os dois bancos.
MIA
Então como é que vamos
entrar no concerto?
Há um plano ou assim?
LUCAS
O Pedro conhece alguém que
faz parte da organização.
A Mia olha para Pedro intrigada.
MIA
Quem?
PEDRO
Um gajo que eu conheço
que quer produzir o álbum
da nossa banda.
A Mia olha para ele desconfiada.
MIA
E quem é que haveria de
querer produzir esse lixo?
O Pedro lança-lhe um olhar ardente. Volta a olhar para a estrada.
PEDRO
Não te preocupes,
nós vamos entrar.
A Mia volta a encostar-se no banco. Rouba a cerveja da mão de João e dá um golo. Oferece a Íris que recusa abanando a cabeça. O Lucas aumenta o som da rádio.
5. EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – NOITE
O carro chega a um parque de estacionamento movimentado.
O carro pára num lugar vazio.
6. INT. CARRO DO PEDRO – NOITE
Pedro desliga o carro. A música pára. Pedro olha para o espelho retrovisor e conserta o cabelo.
PEDRO
Eu e o Lucas vamos tentar
encontrar o gajo. Esperem aqui,
não devemos demorar.
Pedro e Lucas saem do carro. Íris, Mia e João esperam apertados no banco de trás. A Mia levanta-se e estica-se entre os dois bancos para ligar a rádio e pegar nas garrafas de cerveja.
O João abre a janela e acende o seu cigarro. Mia volta a sentar-se e o João entrega-lhe o cigarro enquanto ela lhe entrega uma cerveja. Íris tira da sua mala um batom e um espelho pequeno. Começa a reaplicar o seu batom.
Mia entrega a sua cerveja a Íris que recusa.
MIA
Va lá Íris, bebe um pouco,
vais ficar mais descontraída.
Iris pousa o batom e pega na lata. Dá um golo. Faz logo uma careta. Mia ri-se.
ÍRIS
É horrível!
7. EXT. PARQUE DE ESTACIONAMENTO – NOITE
O João e a Íris estão em pé encostados ao carro. João fuma um cigarro e Iris olha em redor insegura, segurando uma garrafa de cerveja que não pretende beber.
A porta do banco de trás está aberta, onde Mia está deitada a cantarolar a música que sai da rádio, com as suas pernas penduradas fora do carro a balançar.
JOÃO
(para Íris)
Gosto do teu vestido.
ÍRIS
Obrigada.
Comprei na Porfírios.
Íris sorri para João. Espera que ele diga algo, mas… ninguém diz mais nada. Íris volta a olhar em frente constrangida.
Mia senta-se e espreita para a rua.
MIA
Já passou quanto tempo?
JOÃO
Uns 20 minutos.
MIA
Estou farta de esperar!
E não aguento beber mais
esta cerveja barata!
Mia atira a sua garrafa de cerveja para o chão. João atira a beata para o chão e tira do bolso um charro. Acende-o e passa-o a Mia que agradece contente.
Íris avista Pedro e Lucas que se aproximam.
ÍRIS
Ali estão eles!
Mia salta do carro e coloca a sua mala ao ombro, pronta para ir. Pedro e Lucas aproximam-se, parecem chateados.
MIA
Finalmente!
Já vamos chegar atrasados.
Mia começa a andar, mas Lucas puxa-a pelo o braço para trás.
LUCAS
Não tão rápido.
Pedro dá um pontapé na garrafa com força.
LUCAS
O gajo não apareceu…
MAIA
O QUÊ?
JOÃO
Eiaaa…
Um olhar de desapontamento espalha-se na cara de todos.
PEDRO
(irritado)
Se eu alguma vez apanhar
aquele gajo juro que o mato.
MIA
Eu não posso acreditar nisto!
Tu és mesmo burro Pedro, como
é que foste cair numa
conversa dessas?
O grupo começa a discutir. Lucas tenta acalmar toda a gente.
A Íris assiste de lado.
LUCAS
Calma pessoal!
Temos cerveja no carro,
podemos fazer outra coisa hoje.
MIA
Não quero fazer outra coisa,
eu queria era ver o concerto!
Mas claro o Pedro tinha que
estragar tudo.
Voltam a discutir. A Íris agarra a cerveja na sua mão com força. A rádio do carro começa a tocar “Born to be Wild” dos Steppenwolf. A Íris ouve a música que sai pelas janelas abertas do carro. Começa a sentir algo a crescer dentro dela.
BEAT.
ÍRIS
Nós vamos ver o concerto.
A discussão cessa. Todas as cabeças viram-se para ela.
PEDRO
O quê?
Íris treme com a atenção toda nela. Mas não desiste.
ÍRIS
Eu vou arranjar maneira
de nós entrarmos.
PEDRO
(goza)
Sim, claro. A princesinha que
tem medo de falar vai mesmo
conseguir arranjar bilhetes agora.
O concerto está esgotado!
ÍRIS
(firme)
E vou mesmo. Não sei é se
arranjo bilhete para ti.
O grupo ri-se, menos Pedro. Íris sorri. Leva a sua garrafa de cerveja à boca e bebe. Quando termina atira-a para o chão confiante. O grupo observa surpreendido. Íris conserta o seu cabelo e começa a caminhar para o pavilhão determinada.
Mia chama por ela preocupada.
MIA
(grita)
Íris deixa lá, esquece!
Vamos embora!
Íris olha para trás.
ÍRIS
Eu disse que vou conseguir!
Vão para a entrada!
Eu vou lá ter.
Começa a caminhar em direção do pavilhão. Ao afastar-se do grupo a sua confiança começa a desaparecer. Agarra a alça da sua mala com mais força.
ÍRIS
(para si)
Calma, calma tu consegues.
Aiii, no que é que eu me fui
meter… Está tudo bem.
Está tudo bem.
8. EXT. ENTRADA PAVILHÃO – NOITE
A Íris caminha para a entrada do pavilhão onde está uma enorme fila de fãs animados. Atravessa a multidão colorida com dificuldade. Desiste, não vai conseguir entrar por aqui.
Afasta-se da confusão, vira a esquina e encosta-se à parede. Tenta acalmar a sua respiração.
Repara num portão que parece levar às traseiras do pavilhão. Caminha para lá. Está fechado. Repara num buraco na cerca ao lado. Olha em volta. Agacha-se e passa pelo buraco.
9. EXT. TRASEIRAS DO PAVILHÃO – NOITE
Íris descobre as traseiras do pavilhão. GRITOS FEMININOS.
Íris segue os gritos…
Encontra 4 GROUPIES a saltitar e a gritar à volta de um SEGURANÇA alto que está em frente da porta que leva aos bastidores.
Íris observa-as. Olha para o seu vestido. Isto podia funcionar… Conserta o seu cabelo e caminha com confiança na direção delas.
GROUPIE #1
(para o segurança)
Nós estamos com a banda!
Eles conhecem-nos!
GROUPIE #2
Deixe-nos passar! Nós estamos
aqui ao serviço da banda.
Eles precisam de nós!
SEGURANÇA
Se não têm passes para os
bastidores não vos posso
deixar entrar.
As groupies rodeiam o segurança, exigindo que ele as deixe entrar. Cleo, uma groupie vestida coloridamente, afasta-se do grupo e repara na Íris. A Cleo baixa os seus óculos de sol cor-de-rosa até à ponta do nariz e observa a pequena Íris.
CLEO
Que gira. Adoro o vestido.
A Íris sorri. A Cleo faz um gesto para ela se aproximar. Íris dá uns passos na direção da Cleo.
CLEO
Também estás a tentar
entrar nos bastidores?
A Íris acena que sim.
CLEO
É a tua primeira vez, não é?
Eu consigo logo ver quando
é a primeira vez de alguém.
Eu sou a Cleo. Há quem diga
que eu sou bastante perita
neste assunto. Eu vou
ensinar-te como se faz.
A Cleo põe o seu braço à volta da Íris que a ouve atentamente.
CLEO
Regra número 1, nunca uses um nome
real. Aprendi esta de forma dura.
Regra número 2, persistência…
É a chave. Nunca aceites um não.
Regra número 3, analisa todas as
tuas opções. Aquele é a nossa
única opção.
CLEO aponta para o segurança.
CLEO (CONT’D)
Solitário, sem piada, cansado…
Ele acha-se o maior só porque
está a guardar a porta, mas ele
é um inútil. E ele sabe isso.
Portanto é o nosso dever dar-lhe
um momento de felicidade.
Íris fica confusa, mas maravilhada pelo charme e confiança da Cleo. Íris acena com a cabeça. Cleo pisca-lhe o olho. Tira o braço de volta da Íris e dá um passo em frente.
CLEO
(canta)
Ò senhor segurança!
O Segurança olha para Cleo. As 3 groupies param de gritar e olham para Cleo. Com a atenção focada nela, a Cleo levanta a sua blusa colorida. A boca do segurança abre-se. As groupies aplaudem a coragem de Cleo que baixa a blusa e aproxima-se da porta.
CLEO
(firme)
Agora, abre a porta.
O segurança deslumbrado abre a porta. As raparigas gritam e começam a entrar. A Cleo chama por Íris que se aproxima, mas o segurança barra-a. Aponta para o seu vestido. A Íris fica aterrorizada. Está quase lá dentro…
Leva as mãos à ponta do seu vestido. Cleo intervém.
CLEO
Ei, seu porco!
Ela tem tipo 15 anos.
O segurança bufa e baixa o seu braço. Cleo puxa Íris pelo braço para dentro dos bastidores.
10. INT. BASTIDORES – NOITE
Os bastidores são um corredor cheio de repórteres com blocos de notas nas mãos, roadies a carregar material de um lado para o outro e… caras famosas.
A Íris está deslumbrada. Ela nem acredita que conseguiu mesmo entrar. A Cleo olha para ela sorridente. Reconhece o sentimento. Íris fica fascinada a olhar para um rapaz alto estiloso encostado à parede a falar com um repórter.
ÍRIS
(para Cleo)
Aquele é o…?
A Cleo abana a cabeça sorrindo.
CLEO
Anda, eu vou
apresentar-te à banda.
ÍRIS
(entusiasmada)
A sério?
Íris começa a seguir Cleo, mas pára de andar. Cleo olha para ela.
ÍRIS (CONT’D)
Eu adorava, mas eu tenho que ir
buscar os meus amigos, eu prometi
que lhes arranjava passes.
CLEO
Normalmente é o Marco que trata
dos passes. Ele deve estar por aí.
Boa sorte, ele não é lá muito
simpático. Depois passa pelos
camarins, eu vou estar lá.
A Cleo pisca-lhe o olho e afasta-se. Íris observa-a a caminhar pelo o corredor enquanto cumprimenta várias pessoas. É claramente uma estrela nos bastidores.
Íris procura pelo homem que a Cleo apontou. Repara num homem com uma lista na mão que fala com uma repórter. Aproxima-se. Na sua etiqueta de identificação lê-se MARCO. Ele olha para ela de cima abaixo. Revira os olhos.
MARCO
O que é que queres, ò groupie?
ÍRIS
Eu não sou uma groupie.
MARCO
Com esse vestido? Claro, querida.
Esta área é só para os repórteres
e pessoas importantes. O teu sítio
é lá para atrás a fazer o que
vocês groupies fazem!
Marco volta a falar para a jornalista ao seu lado. Íris repara no passe de bastidores à volta do pescoço da jornalista. BEAT.
ÍRIS
(determinada)
Eu sou uma jornalista.
Preciso do meu passe.
Marco olha para ela com um olhar desconfiado. A jornalista olha para ela curiosa.
LINA A JORNALISTA
Vens por parte de que revista?
Eu sou a Lina da Disco,
prazer em conhecer-te.
Lina estica-lhe a mão. Íris aperta-a entusiasticamente.
ÍRIS
Uau, eu sou uma grande fã,
leio todas as revistas. Eu sou a…
Lina e Marco olham para ela. Íris tenta manter a postura. Lembra-se do que Cleo lhe ensinou.
ÍRIS (CONT’D)
… A Lola. Estou a escrever
um artigo para uma nova revista
chamada… Musicalidade.
Íris sorri atrapalhada. Não parece tê-los convencido.
LINA A JORNALISTA
Nunca ouvi falar.
ÍRIS
É mesmo muito recente…
Aliás vai sair a primeira
edição este mês… Por isso
é que estou cá… Para escrever
sobre o concerto, claro!
O Marco olha para lista. Procura pelo o nome. Olha para ela.
MARCO
O teu nome não estás na lista.
Querida, tu não estás a enganar
ninguém. Ou pões-te a andar, ou
tornas-te numa groupie. Encaixas
perfeitamente no papel. Se não
eu vou chamar o segurança,
aliás, EI SEGURAN–
Marco é interrompido por aplausos e gritos. O guitarrista da banda acabou de chegar. A sua camisa colorida está desabotoada mostrando o seu peito. Traz na mão a sua mala da guitarra. Uma verdadeira estrela de rock. Agradece a receção calorosa, completamente egocêntrico.
A Íris fica deslumbrada. Uau. É mesmo ele! Está tão perto. Vira-se para Marco que está também deslumbrado a olhar para o guitarrista. A Lina afasta-se e junta-se a outros repórteres que rodeiam o guitarrista, com os seus blocos de notas e perguntas.
Íris olha para a mesa com os passes. Marco está distraído. É agora ou nunca. Dá um passo para o lado, estica a mão e… Agarra num passe.
Marco vira-se para ela, ainda sorridente do avistamento. O sorriso desaparece logo ao encontrá-la ainda ali. Íris esconde o passe atrás das costas.
MARCO
Segurança!
ÍRIS
Não é preciso.
Eu vou-me embora.
Obrigada na mesma.
Íris sorri e passa por Marco. Caminha pelos bastidores confiante. O guitarrista, rodeado de jornalistas, repara nela e pisca-lhe o olho. Íris sorri incrédula. Coloca o passe à volta do pescoço e saltita pelo o corredor.
11. INT. ENTRADA PAVILHÃO – NOITE
A entrada está cheia de fãs da banda. Está uma grande confusão. As pessoas empurram-se umas às outras. O espetáculo está prestes a começar e ainda está uma enorme fila.
No início da fila a causar problemas está o Pedro, Lucas, João e Mia. Gritam com o RAPAZ DA BILHETEIRA, atrapalhado com toda a confusão.
MIA
— Não estás a perceber, a minha
amiga está lá dentro, ela tem os
nossos bilhetes! Deixa-nos entrar!
RAPAZ DA BILHETEIRA
Não posso deixar entrar
ninguém sem bilhete.
O Pedro empurra Mia para o lado e dirige-se ao rapaz irritado.
PEDRO
SE TU NÃO NOS DEIXAS ENTRAR
JURO QUE PARTO A TUA CARA PERCEBES?
RAPAZ DA BILHETEIRA
(assustado)
Eu vou chamar o segurança…
Um passe para os bastidores paira no ar.
ÍRIS
Não vai ser preciso.
Eles estão comigo.
Íris aparece de repente atrás do rapaz da bilheteira. Segura o passe brilhante com o braço erguido. Sorri confiante. O grupo olha para ela sem acreditar. Não parece a mesma Íris.
PEDRO
(incrédulo)
Não pode ser…
ÍRIS
Bora, está quase a começar.
O rapaz da bilheteira deixa-os passar. O grupo rodeia Íris. A Mia e o Lucas dão-lhe um grande abraço, empolgados.
LUCAS
Íris és a maior!
Íris sorri e aponta para os bastidores.
ÍRIS
Por ali.
Lucas, João e Mia correm nessa direção entusiasmados. Pedro fica a olhar para Íris ainda incrédulo. Ela olha para ele. Ele ri-se e coloca o seu braço à volta dela. Seguem para os bastidores.
FADE OUT
Ouvem-se os primeiros acordes de uma música. Uma multidão aplaude.
FIM
ALEXANDRA PARAÍSO
Alexandra Paraíso nasceu em Leiria, no ano de 2000. Apaixonada pelo mundo das artes desde nova, experimentou várias áreas, desde o ballet, música e finalmente o teatro, onde encontrou a sua principal paixão, representar. Passou a grande parte da sua adolescência nas salas de ensaio da companhia Leirena Teatro e nos tempos livres, cultivava a sua paixão pelo cinema, passando horas com os olhos colados à tela.
Em 2017 participou no filme “Jacinta”. No ano seguinte, iniciou os seus estudos de Produção de Filme e Teatro na Brunel University London em Inglaterra, onde desenvolveu as suas competências nas diversas áreas desde representação a realização. Foi na disciplina de screenwriting instruída por Neil Arksey que escreveu a sua primeira curta-metragem, “Born To Be Wild” (2019).
Regressou a Portugal em 2020 onde iniciou a sua carreira como atriz profissional, continuando a desenvolver o seu interesse pela escrita. Em 2023 escreve a curta-metragem “’77”, selecionada para integrar o 4.º Volume dos Novos Argumentos. De momento, encontra-se a desenvolver uma série com o título de “Parolas em Lisboa”.